A eleição do novo papa compôs uma sinfonia de surpresas: o escolhido, cardeal Robert Francis Revost, não estava no topo das listas midiáticas, e a escolha do nome Leão também foi inesperada. Essas duas surpresas pegaram a mídia desprevenida, que ainda não assimilou completamente a realidade simbólica do anúncio papal. Alguns sinais são tão claros quanto a fumaça branca, embora as fumaças ideológicas e geopolíticas tentem impor outro rosto para o papa. O eleito não é o primeiro, mas o segundo americano a ocupar a cátedra de Pedro; o primeiro foi o cardeal Bergoglio. Ambos nasceram nas Américas: um na América do Norte, nos Estados Unidos, e outro na América Latina, na Argentina. O novo papa conecta as duas Américas, pois nasceu nos Estados Unidos e foi acolhido no Peru como padre, tendo também cidadania peruana. É um padre que, percorrendo as veias abertas da América Latina, foi proclamado bispo. É um migrante. Bergoglio era filho de uma família italiana que migrou para a Argentina.
A escolha do nome remete a três histórias. Primeiro, Leão XIII viveu em uma época marcada pela industrialização, pela exploração brutal dos operários e pelo crescimento do movimento socialista. Ele é o autor da encíclica “Rerum Novarum”, na qual defendia a propriedade privada, mas também a justiça social, a dignidade humana e a responsabilidade do Estado em defender os pobres. Esse documento é considerado um marco na doutrina social da Igreja. Mas Leão também era o nome do melhor amigo de Francisco, o de Assis; eram confrades. Ao escolher Leão, o papa conecta novas e antigas histórias e demonstra, pela estola vermelha, sua defesa da sinodalidade e pelos sapatos pretos que as tradições são necessárias, mas precisam ser atualizadas. Ao escolher Leão, indica suas fortes conexões com o antecessor. E, ao fazer essas indicações, expõe o legado que pretende carregar. Ao escolher o nome Leão XIV e não Francisco II, indica que pretende levá-lo adiante fazendo sua própria jornada pelas veias abertas desse mundo em crise. Ou seja, ele não é Francisco, mas o amigo de Francisco.
Texto escrito pelo Professor Xico Gonçalves
